A julgar pela
versão preliminar do quinto relatório do IPCC (painel do clima da ONU), a
ser divulgado na próxima sexta-feira, a principal atualização nas
projeções da mudança climática não serão relacionadas ao aumento de
temperatura, mas sim do nível do mar.

Quando o quarto relatório, que projetava um aumento de 18 cm a 59 cm,
saiu em 2007, muitos cientistas o consideraram conservador. O esboço do
novo texto fala agora de uma margem entre 28 cm e 89 cm de aumento até
2100.
Uma mudança da escala de dezenas de centímetros na projeção não é
pequena. A margem de erro para o cenário mais pessimista chega a quase
um metro de altura, o que afetaria áreas habitadas por algumas dezenas
de milhares de pessoas.
O principal fenômeno por trás do aumento do nível do mar é o fato de que
a água aumenta de volume quando está mais quente --e os oceanos
absorvem boa parte do calor aprisionado na atmosfera.
"A expansão termal é a maior contribuição para o aumento futuro do nível
do mar, sendo responsável por 30% a 55% do total, com a segunda maior
contribuição vindo das geleiras", afirma a versão preliminar do sumário
político do documento.
"Há alta confiabilidade em que o aumento do derretimento da superfície
da Groenlândia vai exceder a elevação da queda de neve, levando à
contribuição positiva [aumentando o nível do mar]."
INCERTEZAS
Se o novo relatório do IPCC será mais contundente ao dizer que o impacto
do aquecimento sobre o nível do mar será maior, ele ainda tem
limitações quando tenta especificar quão maior.
Um dos problemas por trás das projeções do painel do clima é que o
balanço do derretimento e da formação de gelo na Antártida ainda é
difícil de prever.
Apesar de a maioria das observações e dos modelos de computador alertar
para o derretimento da parte ocidental do continente gelado, o aumento
de precipitação na Antártida oriental deixa o cenário incerto.
"Há uma cofiabilidade média de que nevascas na Antártida vão aumentar,
enquanto o derretimento de superfície continuará pequeno, resultando
numa contribuição negativa [de redução do nível do mar]", diz o texto.
Um avanço do novo relatório é a tentativa de lidar melhor com as
incertezas regionais. Por exemplo, apesar de a Groenlândia ter a massa
de gelo terrestre que mais vai contribuir para a elevação do mar, lá ele
não deve subir.
Como a massa de gelo da região vai diminuir, ela perde força de
gravidade que puxa água na direção da costa. E o mesmo deve ocorrer com a
Península Antártica.
"O efeito gravitacional do derretimento da Antártida, combinado com o
efeito da dinâmica de correntes e a temperatura abaixo da média, deve
deixar o nível do mar abaixo da média na ponta da América do Sul", diz
Aimée Slangen, da Universidade de Utrecht, na Holanda.
"Indo para o Equador, o efeito gravitacional se reverte, deixando o nível do mar acima da média."
Slangen publicou no ano passado um estudo sobre diferenças regionais na
subida da linha d'água, mas diz que ainda é difícil fazer um mapa
preciso. "Precisamos entender o papel das plataformas de gelo, das
geleiras, o efeito térmico e saber como a crosta vai se mover", diz.
O último esboço do relatório afirma que, em 95% das áreas oceânicas do
mundo, o nível do mar vai subir, e que 70% das áreas costeiras terão um
aumento com desvio de menos de 20% da média.
Para os cientistas, porém, é preciso aprimorar o mapeamento. "Para uma
cidade ou um país, a média mundial não importa, é preciso saber o que
está acontecendo logo à porta de casa", diz Slangen.
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